Dez anos é muito pouco

 

Olha, relutei muito em escrever sobre isso. Por vários motivos. Um é porque é pesado, mesmo. Outro, que no jornalismo, o assunto pode parecer esgotado, vai fazer uma semana.


Porém, sinto muito. Mesmo. “Ah, só por causa da repercussão que deu”. “Isso acontece toda hora e ninguém fala nada”. Pois, é. Tá certo. E, não, não está.


Dez anos. Fala a real. Tente lembrar quando você tinha apenas uma década de vida. Eu, confesso, era garotão de tudo. Tinha meus amigos, fazia esporte, gostava de jogar bola, já gostava muito de ouvir um som. E, por aí vai. Sei, tem gente que, dizem, cresce mais rápido. “Namora”.


Menina então, desenvolve rapidão. “Já saca as coisas mais rápido”. Que na maioria das vezes ela é mais esperta que a gente, é verdade. Que bom. Mas, muitas nessa idade só querem imaginar um mundo bom, com seu ursinho de pelúcia, bonecas. Massa também.


Acho que estou por fora. Gurizada hoje com dez anos é wi-fi, fio. Filho, filha. Insta, YouTube, Tik Tok, joguinhos, e por aí vai. Já disse várias vezes que sou um dinossauro quando trata-se de tecnologia. Pré e adolescente me dão um banho nisso. Mau sei fazer selfie.


Entretanto, porém, todavia. A garotinha do ursinho de pelúcia, ou a menina da mesma idade que já gosta de fazer uma live, ou a que já tem de cuidar do irmão ou dos pais, é a mesma criança de dez anos. Não me venha um Dom dar bronca e se dizer instrumento de Deus. Aborte essa ideia. Amém.


Ow, machão, ow, cidadã de bem, ow, religioso, como é que você consegue dormir quando é contra uma criança de dez anos que não pediu isso? Preste atenção, inexiste essa hipótese de “pedir” se o outro ou outra é maior de idade. Né, tio?!

“As assistentes sociais que ouviram a menina relataram em depoimento que ela afirmou que deseja interromper a gravidez. E que só de tocar no assunto entra em desespero. Chora, grita e repete a todo instante que não quer continuar com a gestação”. (Saiu no Fantástico)


“A violência sexual vivenciada pela criança não é caso isolado no país. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, quatro meninas de até 13 anos são estupradas por hora no Brasil.” (Do Nexo Jornal)


Cara, fala sério. Acorde, por favor. Ou, menos hipocrisia. Qualquer médico ou especialista que lida com violência contra criança e mulheres sabe que se a família tem dinheiro paga por um procedimento digno. E, sem alarde, pois “ai se cair na boca da sociedade”.


Olha, na real, me sinto muito despreparado para abordar isso. Para começar sou homem. Sei lá faz quantas décadas alguém deu pitaco no meu corpo. Pelo menos, não como a gente julga o das mulheres. Puts, de criança então…


Coincidência, com atraso, essa semana comecei a ver umas lives do Instituto Alana. Tudo bem, só vi a primeira porque tenho a mania de ter de ver desde o começo as coisas. E, o tema é Ser Criança no Mundo Digital. Bem bacana, depois deixo o link lá.


Só que, fiquei um pouco com cara de tacho. Por mais preocupante, e é, minha situação é super confortável em relação a esse mundão de criança desassistida no Brasil e mundo afora. Sem ofensas e na esperança de ser bem interpretado, que bom seria se na média o problema com os nossos filhos e filhas fossem somente “virtuais”.


Sei, querer abraçar o mundo é utopia. Ironicamente, até casar nunca fui muito de gostar de criança. Mas, sei lá, elas mesmo assim me acham ou achavam engraçado. Deve ser porquê eu tenho a cara engraçada, ou quando converso com elas pareço ter a mesma idade ou até menos.


Depois, já pai, queria ter mais filhos se pudesse. Tenho dois e uma condição de vida que talvez, egoisticamente confesso, não me permite um terceiro, uma quarta... Quando vejo essas tragédias, invariavelmente falo com a Fer e ela concorda: a vontade é de pegar tudo para criar. Tenho coração mole às vezes. Mas, não acostume. Tenho de manter minha fama de bravo. Brincadeira.


Desculpa o desabafo. Me incomodou, incomoda demais. Que nem no caso da menina de oito anos, do Rio de Janeiro, a Ágatha Félix. Isso foi em setembro do ano passado, lá no antigo blog (aliás, tem um atalho neste atual no canto esquerdo), com o título “Para os maiores de uma menina de oito anos. Sério mesmo que não tira o seu sono?! “ . De boa, quem quiser (re)ler, o link vai estar logo abaixo.


Ah, e o gatilho para eu desandar a escrever sobre a menina de São Mateus foi um post da CNBB. Para ser justo, também deixarei o link do texto que o religioso-mor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil fala em um trecho “A violência sexual é terrível, mas a violência do aborto não se explica...” Como postei essa semana no Face do DK, “Desculpe aí dom, mas, não...”.


É isso. Obrigado. Abraço e se cuide.


Links, vídeos, e outras coisas citadas


Ser Criança no Mundo Digital (Instituto Alana) - https://youtu.be/L8nCrV_Px3U


Para os maiores de uma menina de oito anos. Sério mesmo que não tira o seu sono?! -

https://blogdokisho.blogspot.com/2019/09/para-os-maiores-de-uma-menina-de-oito.html


Presidente da CNBB afirma ter ocorrido dois crimes hediondos contra a infância - https://www.cnbb.org.br/dom-ricardo-hoepers-questiona-por-que-nao-foi-permitido-esse-bebe-viver/?fbclid=IwAR1xD10dLfPtszhwGVS2h6rGCgWnbvlJWYiAlGL3DNudsshbck2ekwLAPUA


Fazer isso aqui dá trabalho. Sem rodeios, conto com a ajuda de vocês para o blog crescer e ter mais coisas (textos, talvez áudios, podcasts, entrevistas, vídeos, etc). Vai que rola né.


Para dar uma desopilada


Obrigatório para quem é fã do E.T. David Bowie. Material de 2016, da BBC, em que o produtor Tony Visconti usa as fitas master originais para contar como foi criada a faixa-título de "Heroes".

"Descrevendo "Heroes" de David Bowie - faixa por faixa" https://www.bbc.co.uk/programmes/p03g18sx?ns_mchannel=social&ns_campaign=bbc_arts&ns_source=twitter&ns_linkname=scotland

Valeu pela dica, Heric Steinle . Emoção do produtor estampada na cara ao lembrar das coisas já diz tudo.

Gostou? Diga o que achou e tal. Logo abaixo estão alguns dos link que citei durante o “diagnóstico”.

Sugestões e tudo o mais são bem-vindos. Qualquer coisa estou por aí nas redes sociais - tem atalhos aí do lado - e tem a eclética mas nem tanto Playlist do Kishô no Spotify – toda semana tem alguma música adicionada. Escuta lá e se quiser trocar ideia ou sugerir algo, à vontade.

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