Hoje, os Mamonas Assassinas tirariam de letra? Ou teriam as letras (a)tiradas?

 

Cara, lembro quando fui ao show do Mamonas Assassinas, aqui em Campo Grande. Era 1995. Um monte de pai e mãe com a criançada. Eu? Me senti um marmanjo com minhas 17 ou 18 primaveras, não lembro direito. Ginásio lotado, havia até uma faixa que separava os “jovens” das famílias.

Dinho na linha de frente da banda que tinha bons instrumentistas. Samuel Reoli, no baixo, Sérgio Reoli, na bateria, Júlio Rasec, teclado, e Bento Hinoto na guitarra.

O álbum que fez esse grupo de Guarulhos-SP entrar para história ao vender pelo menos três milhões do álbum homônimo completou 25 anos neste dois mil e vinte e lá vai pandemia. Daí, nesse gancho de um quarto de século, resolvi relembrar as músicas. Principalmente as letras.

Aí é que o bicho pega. Antes, comentário aleatório: e pensar que a EMI foi a mesma gravadora de uns caras tipo Pink Floyd, Jimmy Hendrix. Doideira, né?!

Eram outros tempos, com certeza. Se você escutar o Vira-Vira atentamente, vai se perguntar porquê cargas da água até o Roberto Leal, ícone da música portuguesa, falecido ano passado, adorou a versão de Dinho e companhia.

Olha só um trecho:

“Raios!

Fui convidado pra uma tal de suruba

Não pude ir, Maria foi no meu lugar

Depois de uma semana ela voltou "pra" casa

Toda arregaçada, não podia nem sentar

Quando vi aquilo fiquei assustado

Maria chorando começou a me explicar

Daí então eu fiquei aliviado

E dei graças a Deus porque ela foi no meu lugar!”


- Pula para outra faixa: 1406. Que tem trecho como:

Eu sou cagado, veja só como é que é

Se der uma chuva de Xuxa, no meu colo cai Pelé.


- Depois tem a Pelados em Santos. Que zoa com nossos vizinhos paraguaios e mais. Um pedacito dela:

“Pro Paraguai ela não quis viajar,

Comprei um Reebok e uma calça Fiorucci,

Ela não quer usar.

Eu não sei o que faço

Pra essa mulher eu conquistar.

Por que ela é linda,

Muito mais do que linda,

Very, very beautiful!”


- Daí, quando você começa a pensar “nossa, os caras tinham umas letras bem minion e tal”. Vem

Chopis Centis e manda uns versos assim:

“Eu dí um beijo nela

e chamei pra passear.

A gente fomos no shopping,

pra mó de a gente lancha.

Comi uns bicho estranho, com um tal de gergelim.

Até que tava gostoso, mas eu prefiro aipim.


Quantcha gente,

E quantcha alegria,

A minha felicidade

É um crediário

Nas Casas Bahia”


- Sabão Crá Crá é auto explicativa.

- Referências musicais não faltam no repertório mamonístico. O que dizer de Uma Arlinda Mulher, em que desde o nome da canção já destrói.

“Te encontrei toda remelenta e estronchada,

Num bar entregue às bebida.

Te cortei os cabelos do sovaco e as unhas do pé

Te chamei de querida

Te ensinei todos os auto-reverse da vida

E o movimento de translação que faz a terra girar

Te falei que o importante é competir,

Mas te mato de pancada se você não ganhar.


Vamos lá, eu já não estou aguentando mais

Está doendo minha garganta

Eu tenho que fazer ali gargarejo com vinagre

Soltei um peido aqui dentro (caralho!)

Está fedido o ambiente meus dedos estão dormentes

Pelo amor de deus, parem com esta porra!”


- E Cabeça de Bagre II? Que discretamente, aparece um resquício de Utopia com:

“Loucura, insensatez, estado inevitável

Embalagem de iogurte inviolável

Fome, miséria, incompreensão,

O Brasil é Treta Campeão”.


- Para depois parecer que deixa para lá, era tudo brincadeira

“Quando eu repeti a 5ª série E,

Tirava E, D, de vez em quando um C

Mais de dez minutos se passaram-se

Cê, cê, cê, cererê cê cê”


- Mundo Animal – Grotescamente selvagem e anti-vegano para os dias de hoje:

“Comer tatu é bom, que pena que dá dor nas costas

Porque o bicho é baixinho, e é por isso que eu prefiro

as cabritas

As cabrita têm seios, que alimentam os seus

descendentes”


- Mais uma para o pessoal que considera que os caras só dão uma de machão. Robocop Gay.

Um ser humano fantástico

Com poderes titânicos

Foi um moreno simpático

Por quem me apaixonei

E hoje estou tão eufórico

Com mil pedaços biônicos

Ontem eu era católico

Ai, hoje eu sou um Gay!!!!!”


O Brasil é tão enigmático que este ano iria rolar um circuito de corridas pedestres com o nome Mamonas Walk and Run. Vai lá, a homenagem até que pode ser, apesar deles prezarem por esse lado esportivo e tal. 

Só que minha percepção que, de repente, a banda cujo acidente aéreo matou todos os integrantes em 1996 seria persona non grata para o público LGBTQ+ esvaiu-se ao ler esta nota atlética em site chamado Turismo Gay. Bacana, né?! Ou, não?!


- Calma, pessoal mais “rústico” pode ficar tranquilo com Boys Don’t Cry, um som que parece um mix de Waldick Soriano e Dream Theather. Leia aí um trecho:

“E na cama quando inflama

por outro nome me chama

mas tem fácil explicação:

O meu nome é Dejair

"facinho" de confundir

com João do Caminhão


Vejam só como é que é

a ingratidão de uma mulher

ela é o meu tesouro

nós fomos feitos um pro outro

Ela é uma vaca, eu sou um touro”


- Débil Metal. Essa, na época, confesso que torcia o nariz. Achava que tirava onda com quem curtia um rock pesadão, tipo Sepultura, Obituary e por aí vai. Hoje, dou risada e pô, acho a música muito massa.

“Walking in the dark

now there's just some cookies

it's not for you

I know it's not yet

I just can't explain

it melts in my mouth.

Dying to me now is popcorn.”


- Sábado de sol, alguns dizem que é uma lembrança sobre o famoso caso em que o litoral carioca amanheceu cheio latas de feijão enlatado. Pode ser. O detalhe, na música, além de ter a ousadia de gravar e ressaltar “que vergonha”

"Sábado de sol

aluguei um caminhão

prá levar a galera

prá comer feijão

chegando lá

mas que vergonha

só tinha maconha

os maconheiros tava doidão

querendo o meu feijão"


- Lá vem o Alemão - Incorreto é pouco. Mas, posso estar muito errado, tem muito de alerta e verdade. Até hoje.

“Toda a vez que eu lembro de você

Me dá vontade de bater

Te espancar, oh meu amor!


Só porque ele é lindo, loiro e forte

Tem dinheiro e um Escort

Como um "modess" você me trocou”


Pois, é. São menos de 40 minutos de 14 músicas. E, muitas eram cantadas por crianças ao lado dos seus orgulhosos familiares. E, hoje, como seria? Seja para direita, para esquerda, arrisco que seria bom o grupo ter um bom time de advogados.

Na boa, talvez eram somente uns garotos que queriam zoar e “chocar” a sociedade. Essa época, havia muita gente com esse tipo de humor que sei lá se hoje seria humor. Ou, não. 


Algumas letras realmente já eram sem noção e pouca gente reparou. Como o tempo muda em 25 anos e embaralha nossa percepção. Seja como for, sempre é bom trocar ideias. Soa como música para os meus ouvidos.

Vai lá, escute aí. Nem vou por link ou atalho pois tem opção de tudo quanto é tipo no mundão virtual.

Uma coisa eu tenho certeza. Musicalmente os Mamonas não deviam nada para bandas mais sérias. Brincadeira.

O que achou? Fale aí, mande mensagem por aqui mesmo ou por meios das filiais da Drugstore (Insta, Face, Twitter, Linkedin). Tem uns atalhos aí do lado da página. 

Se tiver ideias, sugestões, demorou. Estamos por aqui para o melhor atendimento possível. E tem também a Playlist do Kishô no Spotify. Sempre rola umas pérolas por lá.

Abraço, e se cuide.

Fontes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mamonas_Assassinas_(álbum)#Críticas_musicais

http://gay.tur.br/eventos/corrida-celebra-25-anos-da-banda-mamonas-assassinas/

https://rollingstone.uol.com.br/noticia/25-anos-de-mamonas-assassinas-como-um-disco-com-temas-polemicos-letras-politicamente-incorretas-e-guitarras-pesadas-roubou-atencao-do-brasil/

https://catracalivre.com.br/mais/morre-o-cantor-portugues-roberto-leal-aos-67-anos/


Para desopilar (ou não)


Da série “não é bem assim”, o mundo do investimento individual em ações. Greg News Gregorio Duvivier Day Trade https://youtu.be/lBpXDKswsUk


- Presidente em cheque

Do  El País https://brasil.elpais.com/brasil/2020-08-24/os-89000-reais-pagos-a-michelle-bolsonaro-sao-a-ponta-do-iceberg-em-esquema-envolvendo-dinheiro-vivo.html?ssm=FB_CC&fbclid=IwAR0lxLm8NRwCbz36k37FRydiPM3XQoAO_GAfQ0OyBCHZQSXm1RWZ5KXoT1g


- Podcast Chutando aEscada – Vai para Cuba. Os caras conversaram com Alfredo Juan (UNAERP) sobre o papel de Cuba nas relações interamericanas. Escute antes de pensar o que você pensou ao ler Vai para Cuba

Gessy & The Rhivo Trio - Hold on – Dica do amigo Marcelo Rezende, baixista da banda. Nessa versão bacana de Alabama Shakes https://youtu.be/eOPw4I2D_gs


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