Lives or let die (?)

 

Tudo porã* por aí? Bem Emmanuel Marinho... chegou a ver a live Mbae Porã, que rolou sexta passada (7). Feito muito na raça, teve umas partes bem bacanas, com Bro MC’s, dizem que a apresentação do Falange da Rima também foi da hora e tal. Vou deixar o link lá no fim se tiver a fim de dar uma olhada.

Essa introdução bem cara de pau é só para dizer que nessa pandemia estamos em ritmo de (lá vem trocadilho infame) lives or let die – saca? Aquela música do Paul McCartney? Ow, gostei bastante da live do Milton Nascimento, da Elza Soares, do Skank acústico – aliás Samuel Rosa e cia daqui a pouco entram no Guiness Book com tanto show on line.

A primeira que vi nesta quarentena foi da Delinha. Dia 1º de maio, parece que foi faz tempo. Mesmo com os depoimentos de gente meio nada a ver - mas “necessário” - foi emocionante. O link da parada também no fim do texto. Tiveram umas lives mais ou menos também. A do Erasmo Carlos foi complicada, não me parece muito bem de saúde. Do Skank no Mineirão deveria ter uma opção tipo “assistir sem intervalos”. Tudo bem, monetizar é preciso.

E, esta nova modalidade de evento on-line não é só música. Rima com vários setores. Entrevistas bacanas, aulas, talvez acesso a outras áreas e personagens que seriam difíceis de ver e escutar se não fossem os streamings, o YouTube e adjacências. Pessoal do Meteoro entrou com uma entrevista a toda semana, gostei do papo com o Leandro Demori, vi também entrevista da… do Conectas. E, recentemente até uma rodada de marketing conteúdo com direito a participação de André Forastieri e tudo.

Muita coisa de “bandeja” por meio da internet. Confesso, é impossível acompanhar tudo. Só se rolar tipo maratona de lives. Opa, pus as aspas lá pois como diz o pessoal que manja, “se o conteúdo é de graça, você é o produto”. Alas, mandei bem nessa, né, não?! Depois você pensa mais nisso.

Eis que chegamos na parte mais interessante. Eu acho. Semana passada, minha parça Fernanda (aliás, ainda tenho de ver uma que ela curtiu, com o Ailton Krenak), tava na expectativa de ver o show do Caetano Veloso. Porém, foi mal… não somos assinante Globo Play. Só depois soube que poderia ver sem precisar desembolsar algum dinheiro. Sei lá, achei que alguma coisa ficou fora da ordem. Embora, fique registrado que os conhecidos com quem troquei uma ideia adoraram a live.

Daí, no fim de semana, enquanto eu (en) rolava na linha do Twitter, eis que o Álvaro Pereira Júnior – jornalista que admiro muitão – mandou essa:

Alas, Felicidade é estar em sua companhia e pagar para ver Seu Jorge...em uma live. Pois é, burguesinha, burguesinha, burguesinha… Cinquenta conto não vai rolar. Este é o preço do ingresso, segundo matéria do G1.

Então… a questão é: Quanto vale o show em uma live? Em vez de cobrar não seria melhor por o QR Code, ou uma vaquinha, ou um patrocínio. Olha, se fosse um pessoal underground ou mais alternativo, que não tem tanto nome como Caê ou Seu Jorge até pensaria no caso. Certeza que seria bem menos que os 50 reais. Mas, esses caras, na boa, acho que não precisavam disso.

Talvez você discorde – de boa, fique à vontade, se não ofender tá sossegado – mas vai de encontro com o que geralmente, no caso destes dois, pregam. Cara, Caetano volta e meia brada a favor das minorias e tal e, manda um show que Popular não vai ver a Música Brasileira feita por ele.

E o Seu Jorge? Confesso que comecei a gostar mais dele após gravar uma música com a participação do Edi Rock, do Racionais MC. E isso não é de hoje. O clip é muito bacana, depois cola lá.

Ow, na boa, não precisa nessa altura do campeonato (em que o Covid é o dono da bola), cobrar ingresso. O cantor que tem uma voz muito da hora tem ou teria outras formas de ganhar uma grana sem parecer tão estranho, se é que me entende.

Está bem, você vai dizer que é justo eles cobrarem. É o trabalho dele e ninguém trampa de graça (pois é, eu já fiz isso, acordei em fazer um texto para um extinto semanário, não recebi na época e fiquei com vergonha de cobrar, vê se pode).

Calma, também não é para imitar aqueles caboclos que encenam chamar disk-entrega no meio da live. Ou, exageram na bebida que o resultado do show sai uma lerda. Tem um vídeo do Gregório Duvivier que fala disso e dos caras que ralam de moto ou até de bike. Vou deixar o link do Greg News também no fim do texto.

Fazer isso aqui é muito legal, mas também dá trabalho. Sem rodeios, conto com a ajuda de vocês para o blog crescer e ter mais coisas (textos, talvez áudios, podcasts, entrevistas, vídeos, etc). Futuramente, acho que vou por alguma coisa de financiamento coletivo por aqui. Vai que rola né.

Então, daí resolvi perguntar umas coisas para dois caras que considero para falar um pouco sobre lives e tal. Chamei os amigos mesmo. Porque como disse Emicida (putz, essa live eu perdi), quem tem amigo tem tudo. E, além do mais são de responsa.

Um é o Marcelo Rezende, músico, ex-Bêbados Habilidosos, hoje baixista da Gessy & The Rhivo Trio, e jornalista. Companheiro de redação lá no O Estado MS, em que ele pilota a editoria de Artes e Lazer. 

Afonso Benites é jornalista e correspondente do El País em Brasílía. E, eles são bons pacas no que fazem e fiquei muito feliz que eles toparam dar essa força para o Drugstore Kishô, que apenas engatinha. Brigadão mesmo. E, bora lá.

- COMEÇA O MOMENTO ‘NÃO É BEM ASSIM, KISHÔ’

Olha só o Afonso me deu uma invertida bem bacana. Decidi que para manter o máximo de fidelidade, publicarei em forma de perguntas e respostas. Segue o fio:

Drugstore Kishô - Como você avalia as experiências com as live do El País? Qual foi a primeira, foi estranho? Agora já sente confortável ou ainda está em adaptação?

Afonso Benites: A adaptação é constante. Tive pouca experiência com vídeo em minha carreira. Sempre trabalhei com texto em impresso ou online. As primeiras aparições foi em um período em que o El País fazia lives no Facebook. Fiz várias durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Naquela época, porém, era diferente. Falava sozinho (ou com alguma colega) para a câmera de um celular por mais ou menos 15 minutos. Eu dividia parte da apuração que tinha com os seguidores do jornal. Neste ano, com a pandemia, a maneira de se fazer jornalismo mudou. Como tudo, né?


Acho esse formato das lives interessantíssimos. O entrevistado que topa aparecer sabe que ele poderá falar o que bem entender por cerca de uma hora. E os entrevistadores tem de estar bem preparados e não se importarem de estar sendo "filmados". A primeira live que fiz nesse atual formato foi comigo mesmo sendo o entrevistado pela diretora do jornal e por uma colega. A primeira em que fui o entrevistador foi com o senador Fernando Collor. Para mim, os maiores desafios nesse período de trabalho em casa são manter a concentração olhando para uma tela de computador -- e não para os olhos do entrevistado -- e evitar que o som ambiente atrapalhe na transmissão.

DK - Acredita que essa nova foma de contato com o público veio para ficar? Por quê?

Afonso Benites: Sim. Mas acredito que diminuirá a frequência em breve. Hoje, boa parte das pessoas estão trabalhando de casa. Então, fica mais fácil você ter um acesso rápido a uma máquina. Além disso, como quase tudo em comunicação, você tem de encontrar maneiras de assegurar a audiência e enfrentar a concorrência. Acho que, em pouco tempo, o público irá se cansar desse formato.

DK - Futuramente as lives de entrevistas com políticos, formadores de opinião, etc, serão restritas. Ou seja, deixarão de ser “grátis” no YouTube, Facebook, e em plataformas de streaming em geral?

Afonso Benites: Não tenho certeza. Acho que não. A maioria dos jornais já usa esse expediente, né? Não sei se fariam o mesmo para as transmissões ao vivo. Talvez, incluam alguma publicidade na transmissão. Algum intervalo ou passem a lucrar com os anúncios do YouTube quando o vídeo estiver nessa plataforma. Já há canais que praticamente vivem da publicidade dos vídeos que publicam no YouTube.












DK - Agora, mais como fã de música, a exemplo do que começou a acontecer no exterior, algumas lives de artistas não estão mais no modo grátis. Por exemplo, a do Caetano, foi somente para assinantes do Globo Play. A do Seu Jorge tem venda de ingressos. O que você acha disso? A forma usualmente encontrada, via patrocinadores – caso de nomes mais conhecidos - ou ajuda por QR Code – que abrange também o pessoal nem tão famoso - não são mais honestos com o público?

Afonso: Cara. Tudo é dinheiro, né? Não condeno quem cobra pelas lives. Enquanto fã de determinado artista eu queria assistir aos shows deles sem pagar. É claro. 

Mas entendo que o cara depende da grana desses shows e nem sempre o patrocínio banca todos os gastos. A cena musical não vive só das músicas do Spotify ou da publicidade da cervejaria Xis. E não só o artista, seu entorno também. Nem todo mundo doa quando vê um QR Code. Não sei qual é o melhor formato. E uma correção. Para assistir a live do Caetano era necessário ter um cadastro na Globo Play. Não ser assinante. É diferente.


- MAIS ‘NÃO É BEM ASSIM, KISHÔ’, COM MARCELO REZENDE


Pode pensar isso mesmo, que eu levei um sacode. Bom, que seja, melhor ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Né?!

O Marcelo Rezende mandou uma visão bem bacana também. E, viva as opiniões diferentes. Leia porque são bacanas as respostas (já as perguntas...). Vai lá:

DK - Como você avalia o surgimento e essa febre de lives?

Marcelo Rezende: Vejo de duas formas positivas. Primeiro que têm sido uma forma de artistas mostrarem trabalhos novos e continuar o processo criativo e segundo do ponto de vista solidário quando utilizam esse meio para ajudar a quem precisa.

DK - Você mesmo participaria de uma né, mas não rolou? Pode explicar o que aconteceu?

Marcelo Rezende: Sim, eu ia tocar com a banda Gessy & The Rhivo Trio em uma Live no Sesc Cultura, mas cancelamos devido ao crescimento da pandemia de Covid-19 na Capital (Campo Grande) e por recomendação médica, já que tenho comorbidades. (Em homenagem a Semana do Rock, o baixista, ao lado de mais uns amigos fizeram uma homenagem ao eterno vocalista do Bêbados Habilidosos, Renato Fernandes, e tocaram Entre um Cigarro e Outro. Cada um em sua casa, o resultado você pode conferir no YouTube - deixarei o  link mais abaixo)

DK - Acredita que essa nova foma de contato com o público veio para ficar? Por quê?

Marcelo Rezende: Creio que possa coexistir com os meios tradicionais de fazer shows. E serve também para bandas mostrarem seu trabalho além das fronteiras de sua cidade, estado ou país. Por exemplo um contratante de um estabelecimento em São Paulo pode ver sua banda ao vivo e conhecer melhor seu trabalho.

DK - Futuramente as lives de entrevistas com políticos, formadores de opinião, etc, serão restritas. Ou seja, deixarão de ser “grátis” no YouTube, Facebook, e em plataformas de streaming em geral?

Marcelo Rezende: Certamente irão cobrar. Na internet tudo se monetiza, não será diferente com as lives.

DK - Agora, também como músico, a exemplo do que começou a acontecer no exterior, algumas lives de artistas não estão mais no modo grátis. Por exemplo, a do Caetano, foi somente para assinantes do Globo Play. A do Seu Jorge tem venda de ingressos. O que você acha disso? A forma usualmente encontrada, via patrocinadores – caso de nomes mais conhecidos - ou ajuda por QR Code – que abrange também o pessoal nem tão famoso - não são mais honestos com o público?

Marcelo Rezende: Eu saquei que isso ia acontecer no momento que anunciaram grandes festivais através de lives. Estava bom demais para ser verdade achar que tudo seria free. Cabe saber o quanto vai custar assistir um show dos Rolling Stones no aconchego do lar, sem ficar seis horas em pé na fila, como fiquei no último show deles no Brasil. Claro que valeu a pena ver ao vivo, mas tomando uma cerveja em também casa vai ser muito legal. Agora o uso da QR Code é bacana mesmo.


E aí? Gostou? Diga o que achou e tal. Curta, compartilhe, sem moderação. 
Logo abaixo estão alguns dos link que citei durante o “diagnóstico”.

Sugestões e tudo o mais são bem-vindos. Qualquer coisa estou por aí nas filiais, as redes sociais - tem atalhos aí do lado esquerdo do blog. Tem a eclética mas nem tanto Playlist do Kishô no Spotify – recomendo clicar lá pois são bem mais do que cem músicas e toda semana tem mais adicionadas. Escuta lá e se quiser trocar ideia ou sugerir algo, à vontade.

Brigadão mesmo se chegou até aqui. Abração e se cuide.

Links, vídeos, e outras coisas citadas:

*porã significa bonito na língua guarani

Festival Mbae Porã https://youtu.be/ODm4K0ZGKkM

Live and Let Die - Paul McCartney & Wings https://youtu.be/nR46gQLyxuE

A Live da Delinha - https://youtu.be/0Err38vdZFM

Matéria do G1 sobre a live do Seu Jorge - https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2020/08/11/seu-jorge-canta-david-bowie-saiba-como-ver-a-live-do-cantor.ghtml

Seu Jorge e Edi Rock - https://youtu.be/ysfm_adxRrI

Greg News Delivery - https://youtu.be/v3B9w6wWNQA

Entre um Cigarro e Outro - Encontros de Quarentena #57 - https://youtu.be/uFB5wgXBkRQ




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