Quando criança, torcer para a seleção era mais legal. E tenho cada vez mais certeza

Tem umas coisas atuais, outras que, infelizmente, ganharam outra conotação. Acho que já falei isso, que de dois, três anos para cá, vejo a seleção bem mais como dever da profissão do que um prazer, uma paixão.

Como os comandados e Tite mais causam transpiração (também aqui tá quente pra baralho) do que inspiração, resolvi jogar “seleção” na pesquisa do bloguinho que veio antes deste.

E, tropecei em algumas coisas. Desta feita, vou aproveitar a coincidência das datas e mandar um flashback myself.

Se já leu, leia de novo e tire suas próprias conclusões. 

Se não, dá uma olhada e tire suas próprias conclusões.


sábado, 10 de outubro de 2015

“Na minha época de criança, torcer para a seleção era mais legal

*Publicado na edição de sábado (10) do jornal O Estado MS

Como se aproxima o feriado de Nossa Senhora Aparecida, do dia 12 de outubro, tanto ou mais conhecido por ser o Dia das Crianças, vou me dar de presente o que todo menino grande que gosta de futebol adora fazer: fingir ser comentarista.

O alvo da vez, claro, é a seleção. Por que ela não encanta tanto quanto eu era garoto pequeno e morava no bairro Amambaí? Época em que jogava bola na praça da frente, antes de virar a das Araras, e todo mundo queria ser alguém do Brasil-il-il. Ou, na pequena garagem de casa, onde o tamanho dos gols era delimitado pelos chinelos, as traves mais anãs do imaginário infantil. E dá-lhe gol do Zico, do Careca, passe do Sócrates, defesa do Carlos, o capitão tinha de ser o Oscar. Ninguém queria ser muito os gringos. E olhe que havia um tal de Maradona, de Lotar Mattaus, de Platini (pena depois ter ido para o lado negro da Força), e tantos outros.

Se bobear, a Copa de 86 foi o momento, talvez, de maior religiosidade de um moleque sub-10. Rezei para que o Zico acertasse o pênalti. Acho que os deuses do futebol não botaram uma fé e deu no que deu. Amém.

Já na década de 90, lembro o frango do Taffarel nas eliminatórias lá nos cinco mil metros e bolinha de La Paz. A derrota na Bolívia foi chata. Perder para uma equipe que tinha umas invenções do tipo Erwin ‘Platini’ Sánchez foi duro. Mas, como a adolescência é um período de altos e baixos, lembro da partida de volta. Pela televisão, ver a goleada por 6 a 0 em cima dos bolivianos, lá no Recife, é destas coisas que ficou na memória. Bons tempos.

Neste momento, deve ser difícil para a criança torcer pela Amarelinha. A maioria dos jogadores atua fora do Brasil e ela quase nem vê o talento por estes campos. Só no vídeogame. O técnico chama-se Dunga, e mesmo que ele não queira, o nome já é um convite para o engraçado. Mesmo que o treinador, à primeira vista, parece ser avesso ao humor. Talvez, isto se reflita dentro do gramado. E, olha que lembro dos lançamentos dele para Romário e companhia na Copa de 1994. Até do palavrão que ele soltou quanto ergueu a taça lá nos States. O que faz a pessoa endurecer e passar do ponto. Futebol é para se divertir. No começo, creio, Dunga também devia jogar bola com seus amiguinhos e só queria ser feliz. Imaginar lá nos pampas ser um Everaldo, um Figueroa. Sei lá, vai ver só Freud explica.

Sim, claro, o cargo de técnico da seleção brasileira é coisa séria. Mas parece brincadeira quando jogadores chamados de última hora entram em campo como titulares. Caso dos laterais Daniel Alves e Marcelo.

E, depois de um ano do seu retorno, não se vê nenhum padrão de jogo na seleção. Na quinta-feira, em certo momento, depois do gol do chileno Vargas, a câmera exibiu uma imagem feita do alto e os jogadores brasileiros pareciam que estavam jogando como a gurizada no recreio. Aonde a bola ia, iam atrás, e os chilenos só no olé, olé.

“Tá de brinks comigo!”, como diria o meu filhote. Que está meio por fora, mas sabe que Neymar é o cara. Tanto que, acredito, é o único jogador do Brasil que ele sabe o nome. O craque fez falta diante da seleção chilena. E, para Dunga, acho que a ausência parece ser desesperadora. Aliás, com o Felipão já era assim. Joga para o Neymar, ele resolve.

Bons tempos em que, com todo o respeito, jogar com o Chile dava medo. Para eles. Aí vem a turma do deixa-disso e destila: “No atual momento, perder para o Chile, dentro da casa deles, é normal”. Caracas, uma coisa é você dar valor ao adversário. Outra, é este conformismo esquisito. Pior ainda é confundir as bolas.

Ver gente comemorando os gols do Chile foi estranho. “Ah, é para protestar contra a CBF, contra o governo, contra tudo!”. Puxa, que legal. Imagino os Estados Unidos perdendo um título no basquete, Cuba no beisebol, a Argentina no futebol, o Japão no judô, a Alemanha em qualquer esporte. E o pessoal na terra deles soltando fogos. Não, não imagino. Pois, nem entra na cabeça deles torcer contra a própria terrinha.

Confesso, torço mais para o meu time (que é brasileiro, bem claro) do que para a seleção. Mas, daí a comemorar a derrota. É demais. Criticar, zoar, é válido. É do brasileiro. Ser do contra só por ser é pensar pequeno. Demais. Deve ser coisa de quem se sente superior ao “brasileiro”.

E, lembre-se: as crianças crescem imitando os adultos.

Abraço.”

E aí, diga o que não achou?


Dicas para desopilar. Ou, não

- Podcast Chutando a Escada – dois episódios muito bacanas que escutei essa semana

Um leva o título Ditadura, Itamaraty e Direitos Humanos. Entrevista com o João Roriz (UFG) e Matheus Hernandez (UFGD). Para quem vive no Mato Grosso do Sul, como este que escreve, o melhor (ou o pior?) fica para o final, quando Matheus versa sobre a violência contra os índios em Dourados e a resistência dos mesmos em não arredar o pé da terra. É, ao mesmo tempo triste e cativante.

O outro é o mais recente e fala sobre Cristofobia e Cristofacismo, com o pastor e teólogo Ariovaldo Ramos, um dos fundadores da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito. Olha, até escutar eu nem tinha ouvido estes termos. Agora, já tenho uma noção. Verdadeira aula sobre religião na história do Brasil. O site é https://chutandoaescada.com.br – De lá você escolhe seu tocador favorito para podcasts.

- O Brasil e as mudanças climáticas | Festival Nexo + Nexo Políticas Públicas

Para quem deseja dar um salto do chavão “tá muito calor, tá muito quente, será que já é aquecimento global” , essa mesa com Juliano Assunção e Mariana Vale é um bom começo para entender um pouco mais. Digo isso porque sou leigo no assunto e a uma hora de explanação deles foi bem didática.



- Pérola - Ministry canta Bob Dylan

Dica do amigo Marcelo Rezende, Jorgensen em 1994 em uma versão digamos ruidosa de Lay Lady Lay. E, com uma participação “marcante” de Eddie Vedder. Dá uma olhada e escreva o que achou.


Menção Honrosa: Luíza Trajano – nem preciso dizer mais nada. No máximo um, "deixa a mulher trabalhar". 


Se chegou até aqui, valeu. Essa já é a décima receitinha da nossa Drugstore. Obrigado mesmo pela força. 

Se cuida

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