Aquela hora que você puxa o ar e ele não vem


Manaus tem aproximadamente 2,2 milhões de habitantes. E este vai ser um dos poucos números que citarei neste humilde texto. Cansado de ouvir estatísticas. Nesta quinta-feira (14), uma das cidades certamente com potencial de ser das melhores do país – a imagem aí é do Teatro Amazonas, que já recebeu gente do quilate de Jack White e, dizem, motivou Luciano Pavarotti a fazer uma visita relâmpago - quiçá do mundo, virou notícia.

Não pelo desmatamento, queimadas, estes já manjados por tudo quanto é cálculo. Faltam tubos de oxigênio nos hospitais para atender pacientes com Covid-19. Desculpe o trocadilho, mas Amazonas virou Umazona. Anunciada.

“Acabou o oxigênio e os hospitais viraram câmaras de asfixia”, diz o pesquisador Jesem Orellana. “Os pacientes que conseguirem sobreviver, além de tudo, devem ficar com sequelas cerebrais permanentes.” - Trecho retirado desse link: https://jornaldebrasilia.com.br/brasil/oxigenio-acaba-em-hospitais-de-manaus-sob-explosao-de-casos-de-covid-19/

Sim, com certeza você já inalou esse fato. Está a par, e tal. Se não, pode jogar na internet. Cada coisa sobre o assunto que é de tirar o fôlego.

Sabe, explicação batida, este caos pode ser por tudo menos por falta de aviso. Essa maçaroca desinformação-negação-aglomera-pressão para abrir tudo porque passa o país há muito mais tempo do que o (in) suportável iria desembocar nisso.

E, não pense que você, morador do eixo Rio-SP, do Sul Maravilha, ou no coração do país, está livre. Hoje em dia está tudo concatenado. De um jeito ou de outro reflete. Se falta até seringa, agulha, é ingênuo pensar que estão a sobrar insumos, medicamentos, e outros aparatos para enfrentar a pior época da saúde no mundo desde que me entendo por gente.

Soma-se a isto, enfermeiros e funcionários de hospitais cansados. Mal remunerados. Até da rede particular. “Ah, mas quando a vacina chegar os problemas vão acabar”. Na real, é importante. Mas, no momento salvar vidas é mais. “Investimos em trazer vacina ou ajudar hospitais país adentro?”. A incompetência virou uma escolha de Sofia, é isso?

Meu, desde março, abril, esse negócio de coronavírus está por aqui. Se os nobres governantes e muitos que são donos do poder no Brasil tivessem tido o mínimo de bom senso e levado a sério essa p…., o problema estaria menos pior. Longe de dizer que estaríamos livres de outros surtos e segunda onda. 

Ah, mas certeza, muito, mas muito menos famílias teriam chorados seus entes queridos, bem longe dos 200 mil mortos de hoje em dia. Diacho, falei em números.

Calma, longe de isentar a parte dos que fazem questão de falar alto sem máscara. Essa semana, um conhecido voltou de férias da praia e veio com a cara de pau querer me cumprimentar com aperto de mão, perante a mais gente a olhar. Fechei os cinco dedos até ele fazer o mesmo. E, depois, dá-lhe alcool gel.

A maioria destes e destas age dessa forma porque alguém que eles veem como (mau) exemplo deram motivo. Sim, difícil seguir em casa, sem poder sair para se divertir, ver os conhecidos e tal. Porém, é o que temos para hoje. Respire fundo. E, faça a sua parte. O pior ainda não passou.

Dica para (não) desopilar

- Perdi Meu Corpo pode não ser uma mão na roda. Mas, vale uma chance

Fazia tempo que não assistia a uma animação francesa. Pelo trailer, Perdi Meu Corpo prometia muito. Premiado em Cannes de 2019, essa produção de uma hora e vinte minutos realmente tem momentos sublimes, graficamente é bem bacana mesmo.

Se você está meio por fora, a história trata-se de uma mão solitária que percorre altas peripécias por Paris. Em paralelo, rola a vida da Noufel. Um garoto que perdeu os pais em um acidente de carro e com ele, o sonho de ser astronauta e pianista. E, vira entregador de pizza.

Uma hora a mão e o protagonista vão se encontrar, tá na cara. Soa e tem tudo para parecer bizarro. O mérito do diretor Jérémy Clapin, também co-roteirista junto com Guillaume Laurant, é fazer disso uma experiência digamos sensorial. A trilha sonora fincada em músicas bem urbanas – pop e rap franceses interessantes – torna-se uma boa acompanhante nesta animação.


E o final? Ow, depois se der me conta o que entendeu. Na propaganda, fala-se que J’ai perdu mon corps é uma celebração à vida. Uma viagem. Talvez, assista de novo. E, tenha outra ideia. Também intrigante.

Em todo caso, fica a dica. Recomendo, pois mesmo se achares que o roteiro não seja para tanto, os traços do desenho propriamente dito compensam. São uma mão na roda.

É isso, espero que tenham gostado. Qualquer coisa, curte, compartilhe, diga o que achou. E, se quiser apoiar de alguma forma o Drugstore Kishô, agradeço.
Abraço e se cuide

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