Com Tânatos em alta, a gente já Eros

Sabe, esta semana tive de ir ao centro de Campão. Se bobear, foi a primeira vez neste ano que andei por lá. Por necessidade, óbvio. Voltei cansado para casa, apesar de, fisicamente, não ter feito nada demais. A simples visão de aglomeração, gente em frente das lojas, sem máscara, como se fosse um dia como outro qualquer antes de 2020, deve ter me enfraquecido. Ando cansado.

Só deu para perceber que era longe de ser um dia normal pois a 14 de Julho estava longe dos dias entupidos de pessoas a se esbarrar nas calçadas. Ainda bem.

Quando cheguei na minha bolha, demorei um pouco para recarregar as energias. Como se tivesse um “encosto”, uma pá de energia negativa. Mato Grosso do Sul vai passou das cinco mil mortes pela COVID. Sinto muito.

Só pensava em qual o motivo de muitos que têm a opção de ficarem seguros em seus lares teimarem em por o nariz fora da sua zona de conforto. É para sua segurança. Li e reli um artigo do Christian Dunker, publicada quase há um mês, dia 20, na Folha de São Paulo.

Fala sobre a pulsão da morte, do embate entre Eros (amor, libido e união) e Tânatos (destruição, agressividade e desunião) no vai ou racha do comportamento da população tupiniquim em meio à pandemia. Das melhores coisas que li este ano. É muito Freud. Pacas (vou deixar o link, espero que você consiga ler).

Volto para Campo Grande. Microcosmo da (extrema?) direita. Imagino muitos que bailam na cara de milhares que não têm a opção #fiqueemcasa . Empregados, “essenciais”, e outros. De entrada, busão lotado, após a saída, lavar e limpar o chão onde os chega de mimimi emporcalham com gosto. Duvidoso.

Todo mundo agora quer um grupo prioritário para chamar de seu, disse alguém do governo. Concordo em parte quando culpam a população pelas aglomeration, por ela acreditar em zap zap fake news, e por aí vai. Porém, sem essa das autoridades tirarem o corpo fora.

A responsabilidade, e muita, também é deles. Das autoridades. Falta de planejamento, ausência de um discurso uniforme para encarar a COVID com uma coragem que sobra em redes sociais. Liberam serviços para agradar quem brada contra fechamento de muita coisa. Economia burra. Defende os da grana, de quem jamais deve ter encarado um coletivo em dias de calor. Povão faz ginástica de verdade e não é de hoje. Pelo dinheirinho suado. Protesto de uns minutos no ônibus vazio foi patético. Necessitam de mais ginástica para o cérebro.

Reconheço, sou um lisonjeado. Posso ir de carro, em casa não falta álcool gel, nem o básico para viver nesses dias, meses, anos de coronavírus. Poderia ser melhor, claro que sim.

Entretanto, quando fui ao centro da Cidade Morena deu uma miscelânea de sentimentos. Impotência, raiva, frustração, medo.

Na real, poucas caras alegres. Muito desrespeito ao distanciamento social, ao próximo. Sabe, ando tão desanimado que nem sei se aquela coisa do, “quando morrer alguém próximo, fulano cai na real”, produz algum choque para os cidadãos de bem ou de bens. Com seus celulares, parecem fazer questão de aumentar o volume quando recebem um vídeo que prega o impregável cientificamente. Má educação parece viralizar. Desinformação, também.

Tive de pegar um elevador. Um aviso dentro do cubículo: permitido três pessoas. Quando entrei, era eu e mais um caboclo que teve de voltar ao centro porque o sistema ficou fora do ar pela manhã. Na subida ao próximo andar entraram quatro...,difícil. Isso na ida. Na volta, o mesmo drama. “Tá subindo? Não, senhor, tá descendo”, e entraram, mesmo assim. Raios, então,por quê a pergunta? Antes que me pergunte, o acesso por escada estava proibido. Trânsito descontrolado. Gado descontrolado.

A parodiar o Ira!, pobre Campo Grande, pobre campo-grandense. Pobre Brasil, pobre brasileiro.

Assim, se esvai mais um desabafo. Enquanto escrevo, tropecei em um álbum da PJ Harvey, - Stories From The City, Stories From The Sea. De 1999. Conheci essa britânica no começo da década de 1990, em que ela cantou Sheela-Na-Gig, no Reading Music Festival. Vi na Band. Se não conhece, dê uma chance. Aos seus ouvidos.

Fico por aqui. Espero que tenha gostado de algo da nossa receitinha da vez. Se quiser apoiar, falar algo, compartilhar ou só curtir, agradeço bastante. Se não, só de você chegar até aqui fico puta agradecido.

Abraço e se cuide. Sempre.

Ah, os links

- do artigo do Christian Dunker

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2021/03/freud-explica-bolsonaro-na-pandemia-com-conceito-de-pulsao-de-morte.shtml


- e do “protesto” no coletivo mas longe de ser em prol do coletivo

https://www.diariodigital.com.br/videos/proprietarios-e-professores-fazem-protesto-em-onibus-em-campo-grande/


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