Desenterrando Sad Hill é muito mais do que só cinema

 

Passei em branco desta lista dos indicados ao Oscar de melhor filme. Tudo bem, lembrei de uma obra que este ano vai completar 55 anos e também passou longe da estatueta dourada. Que, diga-se de passagem, muitas vezes escolhe umas coisas de gosto duvidoso.

The Good, The Bad and The Ugly. No Brasil, virou Três Homens em Conflito. E, para muitos, inclusive eu, legal mesmo seria manter O Bom, O Mau, e o Feio. Calma, nem vou falar muito desta obra prima de Sérgio Leone, produção icônica, com Clint Eastwood, Eli Wallach, e Lee Van Cleef. 

Sim, vale sempre a pena escutar a trilha do genial Enio Morricone. Quando der, vou ver novamente. Na boa, lembro de pouca coisa. Só sei que é bom pacas, e isso é mais do que um belo motivo.

Peguei o gancho dos 55 anos para falar sobre Desenterrando Sad Hill, ou Sad Hill Unearthed. Trata-se de um documentário de 2017. Vi na Netflix. Trata-se de uns fanáticos pelo filme e que moram na região onde foi palco da locação do cemitério do filme, na Espanha.

Dirigido por Guillermo de Oliveira, a meta foi literalmente desenterrar o cenário. Que após quase 50 anos estava intacto. Porém, abaixo de uns bons centímetros de terra. Os caras montaram uma associação e fizeram da limpeza e recuperação do local quase uma via sacra. No fim de semana, mobilizaram uma pá de gente que ajudou na retirada de pedras, tirar a terra e tal.

O documentário tem depoimentos de James Hetfiled, do Metallica, Ennio Morricone, gente envolvida na produção do Il Buono, Il Brutto, e Il Cativo, e Clint Eastwood. Achei muito bom.

Depois de quase uma hora e meia – tempo que mais ou menos dura o documentário – difícil não se emocionar com o feito, e o som. Morricone é mestre demais. Enquanto digito, pus para escutar a trilha sonora do filmaço. Doido.

Outra coisa, como conseguem fazer um documentário que tem como ponto de partida, o “simples” desejo de não deixar o cenário de um (puta) filme morrer. É muito sentimento envolvido. Sei que o termo anda bem batido, só que todo o processo, a ajuda, lembrar histórias de bastidores do filme – a explosão da ponte é alvo de relatos nível espaguete – gera empatia.

Uma pessoa que desdenha do faroeste de Sérgio Leone, leva o seu bang bang italiano para uma mira pejorativa, talvez pense: quanta energia desperdiçada endereçada a um lugar no meio do nada. Ou, qual é o motivo, que interesse há nisso, o que os idealizadores da iniciativa vão ganhar lá na Espanha?

É muito mais do que cinema. Deve rolar uma sensação boa quando a ideia passa por uns perrengues, e depois deliciosamente foge do controle. Meu, olha o naipe do pessoal que falou sobre a iniciativa ao longo do longa espanhol. Final de arrepiar.


O fim de semana será de Oscar. Será que o filme premiado estará nas mentes dos cinéfilos depois de meio século? Ou, principalmente, nos corações dos fãs da sétima arte?


Alguns links que serviram de base para a receita

https://en.wikipedia.org/wiki/Sad_Hill_Unearthed

https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Good,_the_Bad_and_the_Ugly


Dicas para não desopilar

- “As acusações não reveladas de crimes sexuais de Samuel Klein, fundador da Casas Bahia” - Uma pena ficar longe dos holofotes. Pesado. Talvez a maior e melhor reportagem que li este ano. Clique aí, na Agência Pública

- “Estados bolsonaristas lideram mortes por covid-19” - Para lembrar que o perigo segue firme nas ruas. Confira ai, do Congresso em Foco


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