Get back demora, mas quando acaba...

E lá se vão dois meses desde o lançamento do The Beatles: Get back. Não vou mentir, foi uma saga para eu terminar de assistir. Eu quase desisti de ver as quase oito horas divididas em três partes. Bem Peter Jackson, responsável pela trilogia Senhor dos Anéis. Embora o material que ele teve nas mãos para montar os 468 minutos sobre os eternos garotos de Liverpool seja um bem mais precioso. O Gollum que me desculpe.


Curiosamente, o material ficou guardado em um cofre por 50 anos e ninguém nunca assistiu às 57 horas de conteúdo inédito. “Gostaria de dizer que não deixei de fora nada que achasse importante e é por isso que a duração chegou ao que é hoje", falou Peter Jackson em entrevista ao site britânico NME.


Então, minhas primeiras tentativas foram ainda no ano passado. Sei lá se era cansaço, ou porque achava meio arrastado a primeira parte, o sono me dava um let it be quando eu estava determinado a assistir. Cheguei a pensar que é aquela coisa “só para fãs”. Melhor, para quem é muito fã, acrescido de ter boas noções de arranjos musicais e dos instrumentos.


Porém, persisti. Muita gente boa que conheço só elogiava a bagaça que tem como pano de fundo a ideia de compor e gravar canções novas, além de uma aparição na tevê, e um show. Tudo isso em um mês.

Fracionei em sessões diárias de 30, 35 minutos, e terminei de ver esta semana! I win!


Ainda penso que, de repente, o doc poderia ser dividido em mais partes. Por outro lado, transformar 55 horas de gravação em uma coisa ao mesmo tempo comercial e especial – são “só” os Beatles, né – é coisa de cara de outro mundo, tipo que vem da Nova Zelândia. A ideia de basear em dias todo o processo, do estúdio até o show, ficou bem interessante.


O BBB (Big Brother Beatles) traz umas coisas bem esclarecedoras. Uma das principais é ajudar a desconstruir a fama de má influência de Yoko Ono. Quando comecei a ver o Get it Back e a todo instante estava a artista plástica japonesa ao lado de Lennon me incomodava.


Só depois, com mais calma e ler algumas críticas, acredito que, pelo menos nos três episódios, ela jamais deu uma opinião ou palpite sobre a produção. Interferência zero. Ah, esses pré-conceitos...


Outro fato digno de nota é quando surge Billy Preston. Meio de paraquedas, chega e dá uma força no piano. Toca pouco o tiozinho. No currículo, participações com Little Richard, Sam Cooke, Ray Charles. O californiano ajudou a mudar o astral do ambiente que, até então, estava mais down que o cartaz do Brasil hoje em dia.


O BBB mostra como George Harrison já pedia passagem, e queria ter mais voz – sem trocadilho - na banda, ao lado da dupla McCartney/Lennon. Cara, e o Ringo? O Ringo… Ia dizer que, se botassem outro lá em seu lugar não faria diferença. Sei que essa opinião é simplória. Por isso, na minha leigacidade, acredito que o pessoal que manja muito mais da banda saiba os predicados do baterista gente boa. Aliás, ele mesmo nem esquenta com isso: “Ninguém conhece todo mundo”.


Uma coisa é óbvia. O quarteto tocava muito. Em muitas horas, parece uma playlist de hits e alta classe com blues, jazz, e, claro, rock. Emociona. Imagina se ter de parir todo esse trampo em 30 dias. Coisa de Fab Four.


Tem muito mais coisa que dava para dizer. Também, trocentas horas de Beatles tem assunto para mais de metro. Sabia que, “roubados na década de 1970, mais de 500 carretéis dessas fitas (filmadas durante as gravações de 69) foram encontrados em um armazém perto de Amsterdã durante uma operação policial em 2003”?


Acho que é por aí. Você torce para engrenar, depois torce para que a última parte demore para acabar. Sei lá, me trouxe um misto de melancolia e tristeza. 

Pois, você sabe que o show no terraço foi o derradeiro da banda. Mas, de boa, é perceptível o desgaste entre os caras. Aquele lance de “acabou a magia”, “não adianta pensar que dá para ser como antes”.


O lado bom é o legado. E põe legado nisso. Então, fica a dica. Independente do documentário, vale a pena relembrar o som dos Beatles. Dê um Get Back e veja/escute/cante Ringo, George, Paul e John.


Abraço

Se cuide, sempre

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