A Mão de Deus integra, desintegra, contempla


 Assisti ao The Hand of God, ou A Mão de Deus. Italiano, dirigido por Paolo Sorrentino, responsável também por A Grande Beleza, de 2013. Quero ver.

Aviso aos navegantes: O título em si tem bem mais a ver com a adoração do napolitano de 51 anos por Diego Maradona do que com religião. Se bem que, para muitos, o argentino morto em 2020 tem ares divinos.


O longa de quase duas horas foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano. Eu não vi os demais, porém, palpite puro, seria uma surpresa se os italianos ganhasse, Talvez um prêmio de consolação já que, mais uma vez, estão fora da Copa do Mundo.


Calma, a produção filmada praticamente em Nápoles vale uma bela chance. Se não é de placa, é um gol muito bonito. Se você gosta de um bom drama, principalmente. O diretor mistura além do amor pela região sul da Italia, e por Maradona, temas que extrapolam as quatro linhas. 


Machismo, traição, vazio existencial, perda na família, o sexo retratado de um ou mais jeitos, o carinho do casal Schisa, uma personagem que está sempre no banheiro sob pretexto de fazer as unhas, ou, sei lá, simplesmente por achar o local o mais confortável da casa.


A Mão de Deus, ou no original italiano È stata la mano di Dio (Foi a Mão de Deus, segundo o Google), se passa na década de 80. O protagonista é um garoto, Fabieto Schisa, interpretado por Filippo Scotti, introvertido, sempre com seu walkman a tiracolo, e fones de ouvido em volta do pescoço. 

Fã do time do Napoli, e sempre na expectativa de Maradona vir a jogar no clube, o jovem é o fio condutor da história centrada em sua família e nos agregados.


Na real, se bem que sou suspeito, quem pensar que terá uma ode a Maradona/Napoli/futebol vai ficar de escanteio. O esporte aí na produção de Sorrentino é um dos elementos, mas não o único, deste drama com ares bem italiano. Que, para variar, pode ser identificado em muitas situações longe do país da Bota.


Para variar, o núcleo feminino vai muito bem. Sua mãe, Maria (Teresa Saponangelo), a vizinha baronesa (Betty fedrazzi), e a tia Patrizia (Luisa Ranieri), seguram a onda. A personagem vivida por Ranieri – ela é napolitana mesmo - , que vive um relacionamento abusivo, talvez seja uma das pontas mais visíveis da desintegração de toda rede de segurança que Fabietto imaginava ter.


Os caras também correspondem legal à direção de Sorrentino. Quem interpreta o pai de Fabietto (Saverio/Toni Servillo), e o irmão (Marchino/Marlon Joubert), fazem uma atuação segura. Já o contrabandista gente boa interpretado por Alfonso Perugino aparece pouco, só que é fundamental para a história e o que resultará de Fabietto no transcorrer do período.


Sorrentino admitiu que a família encenada no longa metragem saiu da cabeça dele. Só que, algumas passagens – inclusive a talvez mais traumática, aquela que, se desse, era melhor nem respirar – são semi-biográficas.


Olha, dá até para dar rir em alguns momentos. Em outros, vale contemplar as imagens da terra natal do diretor. A ambientação para os anos 80 ficou bem bacana. Interessante também a ode ao cinema, retratada pelo desejo do protagonista virar um cineasta. 


O diálogo com o diretor Capuano ficou bem interessante.

A Mão de Deus é, como diria, meio das “antigas”. Sem edição frenética, sequências com uma cãmera nervosa, músicas idem. Deixou estar a velha televisão sem controle remoto, o jornal de papel, a discussão sem jeito de apelar para whatsapp ou rede social.


Sentimento muitas vezes em estado puro é isso que A Mão de Deus parece desejar entregar. Além dos gols antológicos de Maradona contra a Inglaterra na Copa de 86. Fica a dica.



É isso, se cuide.

Abraço


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Aceito sugestões.


Brigadão

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