A Música Segundo Tom Jobim merece várias notas, mas a base é uma só

 

Olha, se você me conhece, sabe que estou longe de ser bambambam quando trata-se de MPB e Bossa Nova. Aliás, esta semana Elis Regina faria 77 anos. Só uma lembrança para não sair do tom.

Tenho a sorte de conhecer gente que manja bem mais do que eu.


Sei lá se é a idade, oportunidade, ou a cabeça dura a amolecer, ou tudo isso junto e mais um pouco, de uns anos para cá tenho tropeçado em muitas coisas desse pessoal que trata (va?) a língua portuguesa e a música brasileira com bastante carinho e usava a insensatez só quando soava bem aos ouvidos.


A Música Segundo Tom Jobim. Para variar, só assisti agora, há uma semana mais ou menos, e resolvi lembrar por aqui com a desculpa de que o documentário foi lançado há dez anos, em 2012.


O documentário foi dirigido por Dora Jobim e por Nelson Pereira dos Santos. Esse mesmo, o do primoroso Vidas Secas (1963) entre outras produções de peso. O documentário sobre o Maestro foi um dos últimos trabalhos deste paulistano falecido em 2018. Ele também dirigiu A Luz do Tom, lançado em 2013, mas ainda não vi.


Em quase 90 minutos, Dora e Nelson nos oferecem um compilado de apresentações musicais com a obra do gênio brasileiro. Sabe, parece uma lufada de ufanismo no bom sentido (nem sei se é possível isso). A dupla usa e abusa de um acervo de imagens, documentos, e exibições que, enquanto assistia pensei:


Eis aqui este sambinha feito numa nota só

Outras notas vão entrar, mas a base é uma só

Esta outra é consequência do que acabo de dizer

Como eu sou a consequência inevitável de você

Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada

Ou quase nada


Brincadeirinha. Fiquei surpreso no começo, pois esperava depoimentos, talvez uma narração e tal. Humm… não. Para quê, né mesmo?! Dora Jobim e Nelson Pereira abrem A Música Segundo Tom Jobim com imagens em preto e branco, de uma Rio de Janeiro dos bons tempos, que inspirava o cidadão nascido em (Rio de) Janeiro de 1927.


Depois de desaparecer os primeiros créditos pode se preparar. Começa a imersão, com Elizeth Cardoso em Eu Não Existo Sem Você. Ela abre uma sessão estelar The Voice Tom Jobim. A voz do Maestro aparece pouco. Nem precisa, acredite. Literalmente, olhe só o naipe do pessoal cuidadosamente selecionado pela produção que dá uma palhinha: Gal Costa, Judy Garland, Paulinho da Viola, Gilberto Gil e Ella Fitzgerald, Nara Leão, Miucha, Maysa, Chico Buarque, Milton Nascimento, Nana Caymmi, Sammy Davis, e por aí vai.


Menção honrosa às inúmeras versões feitas no exterior para Garota de Ipanema. As participações do maestro com Elis Regina e com Frank Sinatra sacramentam o documentário como uma introdução de luxo aos iniciantes em Tom, e um eterno deleite para os fãs.


Imagens no icônico Carnegie Hall, em Nova Iorque, onde ele viveu seus últimos dias até deixar esta Terra em 1994, e no Sambódromo do Rio de Janeiro, em que foi tema da Mangueira, em 1992.


Imagine fazer todo esse material caber em aproximadamente uma hora e meia. Difícil, hein.

“O trabalho mais sutil foi o de escolha, pois tínhamos muito material e a limitação de estar fazendo um filme de, no máximo, 90 minutos. Sabíamos que seria um corte radical diante do volume de material que recebíamos, e, ao optarmos pelo conceito de não haver fala, restringimos ainda mais a pesquisa”, disse Dora Jobim, em parte da entrevista à Revista Cult, na época em que a obra foi lançada comercialmente.


“Para a escolha das músicas, o Nelson [Pereira dos Santos] fez uma lista de umas 14 que serviam de guia, retiradas do cancioneiro geral, de todas que foram gravadas. Ao longo do processo, chegavam interpretações de músicas que estavam fora em um primeiro momento e pediam lugar”, completou. 


Não me entenda mal. Pega uma noite para relaxar, alugue ou baixe o filme e deixe rolar enquanto faz uma janta, um programa acompanhado, ou com o pessoal que você gosta. Ou, curta sozinho mesmo.


Tristeza não tem fim,

Felicidade sim,

A felicidade é como a pluma,

Que o vento vai levando pelo ar.


Aproveite o pretexto que as águas de março fecharam o verão e relembre quão brilhante e reconhecido foi Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim.


É isso, se cuide.

Abraço.





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