Deixe O Tigre Branco te guiar. Ou, não.

 

Em tempos de dia do Trabalho, ou do Trabalhador, como achar melhor, a dica é O Tigre Branco. Sei, de repente tem pouco a ver. É que, esta produção da Netflix diz muito sobre como é difícil “subir na vida”. Na Índia, na maioria dos lugares.


Pois, é, faz tempo que tava na minha lista, e fui ver só agora. Bem bacana. Desconcertante, às vezes. Já assistiu Quem Quer ser Um Milionário, né? Aquele longa bem legal do diretor Danny Boyle, de 2008. Então, The White Tiger em uma fração de segundos dá uma alfinetadinha nele. E em vários minutos de suas duas horas de duração, espeta a sociedade indiana. E várias outras.


Do diretor Ramin Bahrani, baseado em livro de Aravind Adiga, concorreu ao Oscar de melhor roteiro adaptado 2021 e perdeu para O Pai .

O filme drama e ação tem como linha principal a história de Balram Halwai, um cara que nasceu nos cafundós da Índia, povoado de Laxmangarh, de uma família diria, no mínimo, complicada, de pai explorado, avó megera, e sem muitas perspectivas na vida, sobretudo profissional. Como tantos outros.


A coisa muda quando ele põe na cabeça virar motorista de Ashok Shah, filho caçula de uma família cheia de grana, que transita nos bastidores da politicagem e que, para variar, não gosta de pagar impostos. Ainda bem que deve ser só por lá que rico acha que imposto é coisa de pobre e/ou otário.


Ele consegue, vira chofer. A aparência moderna de Ashok – vivido por Rajkummar Rao - que voltou para a Ásia depois de viver e estudar nos Estados Unidos, agrada nosso pobre personagem que deixou o interior para guiar a sua vida na cidade grande. Se carimbos no passaporte e milhas aéreas fossem sinônimos de mentes abertas… deixa para lá.


E a vida de Balram, interpretado por Adam Gourav, muda mais ainda quando rola um acidente de carro e uma criança morre. Já deu, né? Vai que tu ainda não assistiu. Só citei esse pico do filme porque está no trailer.


De um modo sutil e às vezes nem tanto, o filme bate em ideologias, capitalismo, socialismo, ironiza o rótulo de Maior Democracia do Mundo, para evidenciar o que o mundo sabe faz tempo, só que insiste em acreditar em meritocracia, gurus de autoajuda e frases de efeito em redes sociais: Pobre geralmente só si ferra.


Com produção majoritariamente indiana – inclusive com Priyanka Chopra (que interpreta Pinky, mulher de Ashok), empenhada em viabilizar o longa, Tigre Branco tem coragem de enfiar o dedo na ferida da sociedade do seu gigante país e, fazer assim, ó, girar o indicador para doer mesmo. 

]

Menos caricato que o já citado filme de Danny Boyle, e mais explícito ao introduzir propinas e política neste meio. Atenção, estou longe de dizer que um foi melhor que o outro, beleza?!


Talvez por ser um cidadão nascido na Carolina do Norte, nos EUA, Ramin Bahrani se sentiu à vontade para expor o que pensa sobre a Índia. Ao mesmo tempo, o filme tem umas tiradas em que brinca com a imagem do cinema indiano – Bollywood – diante do resto do mundo.


Com um elenco bastante azeitado, difícil citar um personagem mal interpretado, a obra critica a hipocrisia, os problemas religiosos, machismo, o sistema de castas, e o quanto a população de um bilhão e mais um Brasil de pessoas parece condicionado a perpetuar uma vidinha besta. A trilha sonora tem uma pitada bem ocidental, creio que propositalmente, e rola até Gorillaz.


Guardada as devidas proporções, Balram Halwai, nosso glorioso motorista, revela-se uma mistura a lá Macunaíma. Uma galinha que consegue se libertar do galinheiro. Você pode julgar se foi do jeito certo, ou não.


Quem sou eu para julgar? Enquanto houver sociedades que impedem todos de terem as mesmas oportunidades – inclui aí comida decente, casa e escola idem, esgoto e muito mais – a casta dos sem barriga, como diz o personagem principal, terá de se virar como achar melhor diante dos com barriga. Na Índia, no Brasil, nos EUA, na China…


Feliz Primeiro de Maio, trabalhadora, trabalhador.


É isso, abraço. Se cuida.


Qualquer coisa, comente aí ou se preferir, pode trocar ideias pelas redes ou por e-mail drugstorekisho@gmail.com




Ah, se puder apoiar, agradeço desde já.



Ou, se quiser, faça um pix com o valor que considere justo o trabalho – a chave é lucianoshakihama@gmail.com



Não tenho brindes, mas posso ao menos te agradecer por aqui no próximo texto. E, se quiser, te menciono nas redes. Ou te mando os próximos post por e-mail.
Quem sabe, mais para frente, role alguma coisa. Aceito sugestões.


Valeu!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Piedade. É a dica

Na Copa, torça para o que você quiser

Um sonho, ver o ultraprocessado se tornar naturalmente ultrapassado