O ativismo do atraso também dá voto
E aí, beleza?!
Foi mal, sem dica da vez. Hoje, o papo é para ficar mais entre nós, mesmo.
Tropecei na frase do título quando lia um texto de Maria Paula Dallari Bucci, na Folha de S. Paulo, do dia 5 de junho. Nele, a professora da Faculdade de Direito da USP – sério, não sabia que ela teve passagem no Ministério da Educação do governo Lula – aborda principalmente o que está em jogo na eleição deste ano quando o assunto é ensino.
Se você conseguir ter acesso ao que ela escreveu, vale muito a pena.
Só que por aqui, neste famigerado post do nosso bloguinho, a frase “O ativismo do atraso também dá voto” ganha um significado muito mais amplo. Triste.
Não estar nem aí para mortes de quem defende a natureza, ao mandar o crássico “também, quem mandou estar lá”, é de matar. Ou, morrer. Relegar os povos originários a segundo, terceiro plano, é coisa desumana.
Eles ajudaram pacas e foram fundamentais para encontrar Dom Phillips e Bruno Pereira. Nem um obrigado mereceram das autoridades. Que, em Manaus, há literalmente mais de mil quilômetros de Atalaia do Norte, garbosamente anunciaram o “achado”. Uma mesa repleta de homens brancos.
Tampoucos foram conferir in loco e pareciam desconfortáveis para tratar do assunto. De preferência longe dos jornalistas que estiveram na região do Vale do Javari, onde acompanharam as buscas. Perguntas, para quê? O atraso dá voto.
Imagina você explicar tudo isso para uma criança de onze anos. Difícil ela entender, né?! Mas, acho que você já captou onde cheguei. No ativismo do atraso, ser contra o aborto garante muito voto. Quero muito estar errado, só que não.
Ow, é de chorar. Muitos dizem que ser mãe é uma dádiva. Concordo, mas a mulher querer tem de ser premissa absoluta. Sei lá, soa até ridículo de tão óbvio que parece isso. Infelizmente, não é.
E, bem claro, Mulher. Não pré-adolescente, gente. Não há final feliz. Talvez, haja um desfecho menos triste.
Sequelas ficarão, ela e quem, de fato, se importa com a garota, terão um caminhão de desafios de todas as formas. Torço muito para que uma baita rede de apoio e proteção a ajude. Ao mesmo tempo, vai saber quantas meninas – pobres, óbvio - não tiveram a mesma sorte. Se é que dá para chamar isso de sorte.
Enquanto isso, a juíza foi promovida. O ativismo do atraso dá promoção.
Ainda tem o teatro do preço dos combustíveis. Fósseis. O ativismo do atraso nem cogita ver a situação como uma possibilidade de olhar com mais atenção às alternativas mais limpas, que ajudam a natureza, salvam a gente, óbvio.
Se o mundo caminha muito devagar para um futuro cada vez menos petrolífero, por aqui, nem anda. Daí fica a impressão de coisa de rico, ou só de primeiro mundo.
Dá-lhe propaganda de carros híbridos em um país que caminhões entupidos de diesel parecem ter as rédeas da economia. Ainda há quem ache isso normal. Contradições com a cara do Brasil.
Tal qual um efeito Borboleta, a falta de investimento em pesquisa cai como uma luva para nossa dependência poluidora que já mudou e vai mudar mais o clima por estas bandas e mundo afora. Sem educação, não há boas ideias, soluções criativas. Sem ensino de qualidade, “só por deus”.
Sem a sensação de pertencimento, a civilização barbariza. É isso que boa parte da “elite” brasileira, tradicional, religiosa e família, defende. Há séculos. O ativismo do atraso dá voto.
“Eu não aguento esse ar que eu respiro
Mofo de ontem vou cair no amanhã
Eu não aguento esse ar que eu respiro
Mofo é tudo tá na hora de acordar”, parte de Coração Acorda, do Francisco, el Hombre, com Josyara.
É isso. Se chegou até aqui, espero que tenha gostado. Se bem que gostar talvez seja uma expressão inadequada no contexto.
Abraço, se cuide.
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Valeu
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