Demorei para ler. Valeu e pena. Antifa é manual para seguirmos em alerta

E aí, beleza?!

As coisas andam cada vez mais instantâneas nesse mundo de hoje, né?!

Olha, na contramão, por vários motivos – todos provocados por este que escreve, sem desculpas - só terminei de ler Anfita – O Manual Antifacista, da editora Autonomia Literária. O processo foi lento.


Para começar, lembro que soube da existência do livro de Mark Brady – lançado nos EUA em 2017 - pelo podcast Chutando a Escada. Em novembro de 2019! Pois, é. Até fiz um post na época – ainda no antigo Blog do Kishô (aliás, volte e meia penso em retornar ao nome de outrora) sobre o episódio em que os caras entrevistaram o professor Acácio Augusto (Unifesp). Ainda hoje, um dos melhores episódios do Chutando, e olha que tem uma pá e segue bem bacana o trabalho dos caras.

Quem passa por aqui volte e meia sabe que curto as entrevistas feitas principalmente pelos professores Filipe Mendonça e Geraldo Zahran.


Na época, comentei com um amigo, o Lúcio, também conhecido como Géla. Daí, em março de 2020 ele me descolou a publicação em PDF. Brigadão aí! Três anos depois, enfim, terminei!

Depois desse show de justificativas meia boca, Antifa – O Manual Antifacista é bem didático. O autor, Mark Bray não é um qualquer. Historiador dos direitos humanos, terrorismo e radicalismo político na Europa Moderna e foi um dos organizadores do movimento Occupy Wall Street. Na ocasião da publicação, era professor na Darthmouth College. Tá lá no livro o Saiba Mais sobre ele.


Como o título diz, as 248 páginas tentam explicar sobretudo porque o antifascismo tem de seguir alerta. Nuances históricos, entrevistas com muita gente do lado antifa, fatos em que ações de força física foram decisivas para frear os supremacistas. A necessidade da violência é um dos pontos de discussão no livro. Outro que achei interessante é que o movimento antifacista tem divergências, desde ideológicas até na maneira de proceder para repelir o lado mal da força.


Apesar do foco ser na maior parte o combate ao fascismo na Europa e Estados Unidos, é possível traçar paralelos com o que acontece por estas bandas. Sobretudo, a tiracolo da tormenta cristalizada pelo Trumpismo.


Destaquei uns trechos do livro. Mais prático do que eu querer explicar a bagaça.


Dê uma olhada:


Na Introdução - “é importante não perder de vista o fato de que o antifascismo sempre foi apenas uma faceta de uma luta maior contra a supremacia branca e o autoritarismo. Em seu lendário ensaio de 1950, “Discurso Sobre o Colonialismo”, Aimé Césaire, escritor e teórico martinico, argumentou convincentemente que o “hitlerismo” era repugnante para os europeus por causa da “humilhação do homem branco e do fato de [Hitler] aplicar à Europa procedimentos colonialistas que até então haviam sido reservados exclusivamente para os árabes da Argélia, os ‘coolies’ da Índia e os negros da África”.


- George Orwel na Espanha em 1936 - “que chegou a Barcelona em meio à revolta revolucionária, a descreveu como “a primeira vez que em estive em uma cidade comandada pela classe trabalhadora”. Ele participou do POUM (Partido Obrero Unificado Marxista).


- “Em meados do final dos anos 70, skinheads de vários grupo gravitavam para subgênero do punk Oi!, que se destacava na ostentação de bandas como os Sex Pistols ao forjar um pub-rock direto, “de volta às origens” com seu atemporal estilo masculino da classe trabalhadora caracterizado por bandas como Angelic Upstairs, Sham 69, e Cock Sparrer”


- “Do final de 1976 a 1981, bandas punks como The Clash, X-Ray Spex e Stiff Little Fingers dividiram o palco de reggae de Aswald e Steel Pulse para criar um fórum inovador para jovens brancos apreciarem a música jamaicana pela primeira vez. Rock Against Racism (RAR)”



- “Precisamos construir movimentos socialistas libertários que consigam formular respostas para as mesmas perguntas que a extrema-direita faz.” Rasmus Preston é um cineasta antifascista dinamarquês


- “O fascismo e o nazismo surgiram como apelos emocionais e antirracionais fundamentados em promessas masculinas de renovação do vigor nacional.”


- Embora seja verdade que, em certo ponto, o epíteto fascista perde um pouco seu poder se for usado de forma muito genérica, um componente-chave do antifascismo é se organizar contra ambas políticas, fascistas e fascistóides, em solidariedade com todos aqueles que sofrem e lutam. Questões de definições devem influenciar nossas táticas e estratégias, não nossa solidariedade.”


- ““Ao invés de privilegiar os direitos universais supostamente “neutros”, os antifascistas priorizam o projeto político de destruir o fascismo e proteger osmais vulneráveis, independentemente de suas ações serem consideradas uma violação da liberdade de expressão dos fascistas ou não.””


- O “extremismo” (um termo aparentemente inócuo que os centristas usam para confundir nazistas com anarquistas e jihadistas com comunistas) surge quando esse processo “natural” de troca discursiva é impedido.”


- “Os antifascistas não se opõem ao fascismo porque ele é resumidamente antiliberal, mas porque promove a supremacia branca, o heteropatriarcado, o ultranacionalismo, o autoritarismo e o genocídio.”


- “A atração da ideologia de extrema-direita muitas vezes brilha mais quando a esquerda não consegue conquistar as vitórias necessárias para atender às necessidades populares e promover suas próprias perspectivas  ideológicas.”


- “É certo que os fascistas sempre se fazem de vítimas quando são impedidos. O fascismo foi construído com base no medo – medo dos judeus, comunistas, imigrantes, maçons, homossexuais, da “decadência nacional”, modernismo estético, “genocídio branco” e assim por diante. Não importa como a esquerda trate os fascistas, eles sempre vão se apresentar como as vítimas aflitas.”


- “As estrelas da extrema-direita Ann Coulter, Bill O’Reilly e Milo Yiannopoulos vão ascender e cair. E à medida que se afundarem na obscuridade, outros racistas e sexistas herdarão seus contratos de publicação e programas de rádio. A questão não é qual fascista é o melhor em chorar “lágrimas de crocodilo”, mas sim se podemos construir um movimento suficientemente poderoso para esmagar quaisquer manifestações coletivas com aspirações fascistas.”


- “Em suma, em vez de avaliar a recepção pública da violência e da não-violência em termos binários, faz mais sentido pensar nos termos de uma mudança contextual dentro um espectro de simpatia que deve ser ponderado com relação aos objetivos específicos do movimento.”


- “Os antifascistas dão muita ênfase ao controle do espaço público em todos os sentidos e, portanto, dedicam uma quantidade significativa de energia para eliminar qualquer traço público de fascismo. Por exemplo, no início de 2016, um grupo chamado “Irmãs Antifascistas” se formou em resposta a ataques neonazistas em espaços autônomos na Eslovênia. O estilo lúdico criativo das Irmãs de encobrir o grafite fascista foi exibido em seu vídeo-paródia dos Caça-Fantasmas, no qual elas usaram um “grafitômetro” para medir os níveis de “contaminação da direita nas paredes”.


Opa, fui atrás do vídeo das Antifa Sisters, olhe aí

Antifa Sisters from CrimethInc. Workers' Collective on Vimeo.

– Sobre machismo - “Excluídas da militância ou criticadas por participarem, as mulheres enfrentam uma variedade de desafios de gênero quando tomam parte ativa no movimento antifascista. Essa é parte da razão pela qual algumas antifas alemãs criaram grupos feministas chamados de “fantifa”.”


- “as pessoas tentam dividir o conceito de massa de uma reposta militante, que só é possível fazer uma coisa ou outra. E acho que realmente queremos desafiar isso. Achamos ambos necessários – organização popular e confronto antifascista”.


- “Xtn, que atuou na ARA de Chicago nos anos 90, disse: “Se continuarmos a funcionar em um modelo de grupo de afinidade em pequena escala, não abordaremos questões sobre como interagimos com comunidades mais amplas sob ataque”. Dominic, da Alemanha, concordou enfatizando a necessidade de transcender “políticas subculturais isoladas” a fim de engajar “os perdedores da política neoliberal” que possam ser simpáticos ao fascismo. Dolores C., da Suécia, assentiu, argumentando que o antifascismo exige que “nós construamos movimentos para mostrar as nossas soluções” para as questões populares.”


- “Eu sempre pensei que é uma guerra total contra o fascismo, mas não de uma maneira militar. Você precisa estar pronto para atacar e se defender. Você tem que estar preparado, mas se trata principalmente de uma luta cultural, porque o fascismo cresce na classe trabalhadora. Temos que estar

presentes na classe trabalhadora, no movimento estudantil, na organização de trabalhadores na comunidade e na construção de redes de solidariedade”. – NICCOLÒ GARUFI, ITÁLIA


- “Leve a sério tudo que diz respeito à organização... crie um espaço democrático onde as pessoas possam se envolver pela primeira vez... fomente uma cultura de solidariedade e respeito”. - KIERAN, MINNEAPOLIS


““Solidariedade também é sobre apoio ao ‘seu’ pessoal, então tenha certeza que eles estão bem; se não, pense no que você pode fazer em vez de forçá-los a agir independentemente das circunstâncias. Antifa é um estado de espírito,uma maneira de refletir e pensar criticamente (também sobre nós mesmos), não roupas pretas e artes marciais”. – M, POLÔNIA




Manifestação Antifa no Dia do Trabalho, 2013. [Reprodução/Foto do autor]

Foi um mini apanhado de trechos que selecionei, entre muitos outros interessantes. Como música é uma coisa que me atrai pacas, Mark Brady lembra de um jornal feito por um grupo antifa que mudou o nome de seu jornal para, “No KKK – No Fascist USA! que eles tiraram da banda punk MDC (e que desde então se tornou o maior hino popular anti-Trump: No Trump – No KKK – No Fascist USA!).”


Se você for um leitor mais atento, vai notar alguns erros de revisão na versão para o português. Nada que atrapalhe muito, ou mude o sentido da frase ou do raciocínio.


Em suma, a dica da vez talvez seja meio “cabeça”. Porém, jamais desnecessária para quem se interessa em combater o fascismo e acredita que a melhor maneira de evitar a propagação deste movimento abjeto é sufocando o máximo possível. Sempre alerta, mesmo nos tempos de “paz”.


É isso.


Seguem os links que têm a ver com o post:

- Podcast do Chutando a Escada sobre o Antifa – Manual Antifascista https://chutandoaescada.com.br/2019/11/05/chute-133-antifascismo/


- (Grande) Dica se você tiver hora e meia: podcast "Antifa" do Chutando a Escada

https://blogdokisho.blogspot.com/search?q=Ac%C3%A1cio+Augusto+


- Antifa Sisters

Having Fun Keeping the Streets Clean of Fascism

https://pt.crimethinc.com/2017/04/21/antifa-sisters-having-fun-keeping-the-streets-clean-of-fascism


Comente aí, ou se preferir fale comigo por:


E-mail drugstorekisho@gmail.com


Twitter – https://twitter.com/KishoShakihama


Linkedin - https://www.linkedin.com/in/lucianokishoshakihama/


Instagram – @lucianokisho77



Se puder apoiar este que escreve de alguma forma, entre em contato.


Se quiser ajudar financeiramente – porque a minha grana tá curta pacas - manda um PIX, a chave é lucianoshakihama@gmail.com

Se não, tranquilo. Dá nada, não.


Só de chegar até aqui, brigadão pela companhia.


Abraço, cuide-se.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Piedade. É a dica

Na Copa, torça para o que você quiser

Um sonho, ver o ultraprocessado se tornar naturalmente ultrapassado