Negacionismo não tem ver com classe, tem a ver com caráter. O infectologista que falou

 

Aos 54 anos, o médico infectologista Rodrigo Nascimento Coelho já frequentou a DK há quase seis meses. Para jogar um balde de água fria na até então motivação dos “responsáveis” pelo futebol de Mato Grosso do Sul de voltar a ter público ainda em dezembro do ano passado. Se tiver a fim, depois clica no link que ficará lá em baixo.

Atenção: se quiser, pode pular esta introdução - feita por este que escreve e usufrui o direito de ser o administrador deste espaço - e ir para o que interessa.

Introdução

Aliás, este post, com o título “Estrutura (?) dos times preocupa infectologista na volta do futebol em MS” foi o responsável pelo poderoso blog ter sido impedido de ser compartilhado no Facebook e Instagram. Não, até hoje não sei o motivo. Tio Zuckerberg deu perdido e me deixou sem satisfação.


Nesta quinta-feira (25), liguei para o carioca, vascaíno e vacinado, que mora em Campo Grande. Até contei o imbróglio. Ele ficou surpreso, e, no fim das contas, até rimos do ocorrido. “Escreva de um jeito mais calmo”, brincou ao sugerir umas dicas, o infectologista que está na linha de frente diante do novo coronavírus, no Hospital Regional, na capital sul-mato-grossense.


Vamos ao que interessa

No Brasil, o coronavírus está prestes a completar um ano. Só em Campo Grande, na média, foram pelo menos 1450 óbitos, uma morte a cada seis horas em conta aproximada. A primeira morte na Capital foi em 12 de abril. Demorou um pouco para chegar, mas desde lá, porteira aberta e pelo menos 74 mil casos confirmados.

Já em setembro, Rodrigo Coelho, disse ao Drugstore Kishô, entre outras coisas que, “mesmo em caso de descoberta da vacina, a mesma só entrará em campo para valer provavelmente no ano que vem”, também conhecido como 2021. É na eficiência da distribuição e da cobertura vacinal que reside a principal esperança do infectologista, que evita cravar prazos mais exatos.

Questionado se, em março do ano passado, se alguém te perguntasse como estaria a pandemia hoje, você imaginaria um cenário igual, pior ou melhor do que esse, Coelho afirmou que, “a gente não tinha uma verdadeira noção na época”.

Ainda prefere não apontar panoramas mais concretos, seja para o bem ou para o mal, para esse 2021. “Sou otimista, acredito que com a cobertura da vacinação, a situação vai melhorar bastante”, falou a este que escreve, por intervalo, no intervalo de seu trabalho, na última quinta-feira.

Longe de querer viralizar polêmicas, o médico-infectologista formado pela UFF (Universidade Federal Fluminense) respondeu sobre qual aspecto a sociedade mais falha no combate a pandemia. “O ser humano nasceu para viver em sociedade, volte e meia tem um solitário, surge um ermitão mas é característica da espécie humana viver em sociedade. E outra característica é a dificuldade em se adaptar, a mudar os costumes, como usar máscara, distanciamento social, lavar as mãos. Essa foi a maior dificuldade, a adaptação”, argumenta.

“Tem pessoas que tem mais facilidade, tem pessoas que não. Tem gente que depende disso para viver, bares, restaurantes, etc. A aglomeração como modo de vida. Então, a adaptação aos novos costumes foi um dos aspectos. Não só no Brasil, foi no Mundo”, acrescenta Coelho.



No geral, a vacinação no país mal atingiu 5% da meta. Neste ritmo, é provável que vá até 2023. Doutor, esse quadro é realista ou pessimista? “Tudo depende da quantidade da vacina. No momento que tivermos doses suficientes, a velocidade da cobertura será maior, seguindo os critérios de prioridade. A grande questão é não ter de que segregar”, falou.

“Por exemplo, Mato Grosso do Sul tem 3 milhões de habitantes, se chegarem 6 milhões de doses, vacina tudo ainda este ano”, completa, confiante.

Mas, e a falta e a demora na vinda das doses? “Essa é a grande questão. Também existe uma falta de insumos, de remédios. Há muita procura no mundo inteiro. Mas estou otimista, se as vacinas vierem, a propagação vai diminuir muito. Os testes preliminares foram muito positivos”, diz Rodrigo Coelho, imagino eu, mentalmente com os dedos cruzados.

O infectologista recentemente tomou a segunda dose. Neste quase um ano, não testou positivo para a Covid, mas admite que perdeu amigos. Difícil é conhecer alguém que não perdeu nenhum ente querido. Ele concorda.

Como o senhor lida com o negacionismo, com pessoas até de formação superior que não acredita na pandemia, na vacina… “É do ser humano discordar e aceitar. Nada na vida é 100%, você tem pessoas que questionam, que veem (a COVID) como fraude, isso é do ser humano. São criadas normas e você vai encontrar pessoas que se negam a respeitar”, começa Coelho.

“Mas, a grande maioria cumpre isso (as normas). Agora, como dizia meu avô: ‘um matinho podre mata todo um campo’. Um tomate podre estraga o resto. Este é o problema!”, prossegue o médico. “Não tem a ver com nível social, ensino… tem a ver com caráter”, encerra o cidadão.

Ah, e perguntei se ele é a favor da utilização de duas máscaras. “Se a máscara for boa, uma só serve”.

E, estima que até quando teremos de usar máscara como prevenção a Covid? “O tempo que a gente vai seguir usando depende da cobertura da vacinação, para impedir a propagação (do vírus). Por isso a gente bate tanto nesta tecla da cobertura vacinação. E para todo mundo, até para as crianças!”.

Beleza, doutor, muito obrigado por ter tido um tempinho para trocar uma ideia. Valeu pela consulta.

Ah, para ler a entrevista que fiz com ele no ano passado, é só clicar aqui

- E se quiser dar uma olhada, o boletim epidemiológico desta sexta-feira (27 de fevereiro) da Secretaria de Saúde de Campo Grande pode ser baixado neste link https://url.gratis/Tp7dF

- Tem também o Vacinômetro, aquele que registra diariamente quantas pessoas já foram imunizadas. O de Mato Grosso do Sul pode ser acessado no link https://url.gratis/P50EK

É isso, já deu, encerro por aqui enquanto escuto a playlist KiRock pesado, no Spotify. Espero que tenham gostado.

Qualquer coisa, curte, compartilhe, diga o que achou. E, se quiser apoiar de alguma forma o Drugstore Kishô, agradeço. Também estou no twitter (@KishoShakihama), Linkedin e afins.


Abraço, se cuide. Máscara.

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